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sábado, 6 de maio de 2017

Sol e Lágrimas – Cap. IX


Por: Alexandre Mendes

       Quando chegou o cair da tarde, Odimar ganhou a sombra das árvores que margeavam a trilha, pela lateral do rio. Sua prudência foi, lentamente, sendo tomada pelo cansaço. Colocou o revólver na cintura, novamente, pois só ouvia o canto dos pássaros e o chacoalhar das árvores no vento. O perigo parecia estar muito longe dali. O sol havia o abatido por demais, o seu corpo e a sua mente, entretanto, o desejo de resgatar sua mãe era muito mais forte do que tudo isso. Lembrou-se de como gostaria de ter passado mais tempo com sua família, principalmente, durante a infância. Recordou-se do dia em que foi arrancado de sua família e obrigado a trabalhar no pastoreio das ovelhas, em outra propriedade de Seu Sebastião, a Fazenda Pirucutú. Nesse tempo, Odimar tinha apenas seis anos de idade. Guardou em seu coração, a dura recordação da primeira noite longe de seus pais, dormindo naquele celeiro improvisado de dormitório, junto a outras oitenta crianças, aproximadamente.
Trabalhavam do nascer ao pôr do sol, sete dias por semana e, então, descansavam somente a metade de um dia, de acordo com a escala de folga, feita pelo Capitão Tinoco, o chefe dos capatazes. O meio dia de folga era o único momento em que podiam pensar em si mesmos.
      “Péricles” era um nome que jamais sairia de sua cabeça. O menino era seu vizinho de esteira no celeiro-dormitório e fora seu melhor amigo, dos seis aos dez anos de idade. Péricles tinha a mesma idade de Odimar. Infelizmente, o garoto teve a péssima idéia de fugir do cativeiro. Parecia não agüentar mais a escravidão. Chorava muito, com saudades de sua mãe, enquanto levava o rebanho para o bebedouro.
Certo dia, aproveitara a distração do jagunço que estava no plantão e embrenhou-se, mata adentro, sem destino planejado para a sua vida. O pobre coitado teve o infortúnio de ser capturado, algumas horas depois, pelo Capitão Tinoco e seus auxiliares.
Levaram-no de volta a fazenda e o içaram pelos braços, por uma corda pendurada em um grosso galho de árvore. Seu corpo nú suportou o frio da madrugada e o raios do sol escaldante, durante dois dias, sem comer ou beber nada. De vez em quando, Odimar e os outros meninos podiam ouvir a súplica murmurada por Péricles, pedindo a presença de sua mãe, junto a ele. – “Mãe! Mãeeee!” – E desabava em soluços, até desmaiar novamente.
Odimar trabalhava duro no campo, quando viu Seu Sebastião chegando a cavalo.  O patrão aproximou-se do moribundo dependurado e, ainda montado em seu puro sangue, argumentou com Capitão Tinoco algo indecifrável para o pequeno Odimar, devido a distância em que estava. Em seguida, o fazendeiro lançou suas esporas sobre o lombo do animal, guiando-o em direção aos meninos. Odimar lembra bem daquele olhar maligno do velho sobre eles, amaldiçoando-os: - Espero que sirva de exemplo!
Enquanto muitos ainda tremiam de medo com a presença de Seu Sebastião, poucos perceberam de imediato a fumaça que subia, devido a combustão da carcaça pendurada de Péricles: os bandidos haviam colocado fogo no moleque, ainda vivo, para que os demais presentes jamais ousassem repetir a façanha.

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