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domingo, 14 de maio de 2017

Sol e Lágrimas - Cap. I

Por: Alexandre Mendes



O sol ainda não tinha nem começado a nascer e lá estava Alcebíades, colocando as botas para o trabalho na lavoura. Sua esposa, Dona Adenaide, carinhosamente apelidada pela vizinhança de Nonó, preparava o café na cozinha para ele. - Saco vazio não fica em pé muito tempo, não! Come um pão com manteiga, antes de sair. Toma aqui sua marmita.
Alcebíades colocou o almoço na mochila. Levava algumas ferramentas em uma bolsa de pano, pois se as pusesse na mochila, poderia virar a marmita e o pobre do lavrador não comeria mais nada até chegar em casa, por volta das nove da noite. A viagem da roça de Seu Sebastião, onde ele trabalhava, até sua casa demorava duas horas a pé.  
Sua maloca, de teto de palha e paredes de barro e bambu, fora construída por ele e Nonó em meados de 1975, quando eles se casaram. Lembra ele, a alegria que foi quando terminaram de construir o casebre. Compraram uma garrafa de aguardente, do mais barato que tinha na barraca de Seu Jonas. Se embebedaram, logo depois que Alcebíades acendeu a lamparina. A esteira de palha ainda era a mesma da noite de núpcias. 
Quantas lembranças Alcebíades teve no percurso até a roça de Seu Sebastião, enquanto cortava atalho pelas picadas na mata, para chegar mais rápido. 
Duas horas depois e lá vinha ele entrando pelo portão de arame farpado da roça de milho em que trabalharia naquele dia. 
Seu Sebastião era um homem muito rico e poderoso na região de Iporangaba. Seus capangas eram muito cruéis e quem saía do ritmo do trabalho estava sempre passível de ser toturado ou morto.
- Bom dia, Seu Manoel. - Retrucou para o velho porteiro.
- Bom dia. - respondia ele. Aquela cena já se repetia há anos. 
O velho agricultor se dirigia até o barracão das ferramentas principais, para iniciar a execução do trabalho.


Enquanto isso, Nonó preparava um guisado de carne de porco do mato e sopa de milho. Sabia que aquele prato era o preferido de Alcebíades.


Foi um pouco antes das duas da tarde que Alcebíades abriu a marmita, sentado embaixo de um pé de camboatá. O sol não estava tão forte e só a sombra do milharal já fora o suficiente para o descanso de Alcebíades.


Não havia acabado de comer ainda, quando Olivença, um dos capatazes do seu senhor, ordenou que o acompanhasse até a casa da fazenda. - Velho, o patrão quer falar com você.- Alcebíades engoliu a seco, pois sabia que nenhum trabalhador, quando convocado a ir até a fazenda, voltava para contar estória.


Não percam o próximo capítulo. 

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