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domingo, 30 de abril de 2017

Memórias de um operário XIII

Por: Alexandre Mendes

Houve um acontecimento que marcou a minha vida, no momento em que a obra de Vista Alegre acabou e, simultaneamente, discuti com as donas do trailer, abandonando o serviço.  Fiquei perdido e atordoado com a situação financeira em que me encontrava. A geladeira vazia e as contas atrasadas.

Quando o dono da casa começou a me cobrar os três meses de aluguel atrasado, todo dia, acabei pirando com a situação. Saia de casa, cedo, e não encontrava trabalho. Estava desacostumado com as ruas. Tentei voltar, mas acabei falindo. Fiquei completamente sem dinheiro. 

Lembrei-me do revólver calibre 32, que comprara anteriormente, pensando na segurança da minha família enquanto trabalhava no trailer. Até então, a peça não havia tido utilidade alguma para mim. Além do mais, eu nunca cheguei a atirar com a arma e, no final, quando eu a vendi, já estava bem enferrujada por falta de lubrificação.


  Sentia muito ódio no meu coração. Precisava trabalhar, mas não achava emprego. Apareciam de repente, trabalhos de venda sem remuneração fixa. Andar o dia inteiro tentando vender dez planos de saúde, com um nome que ninguém nunca ouviu falar antes. Não, nem tentava trabalhar nessas merdas.

Coloquei a arma na cintura, olhei ao meu redor. Precisava manter a casa intacta, a qualquer custo. Despedi-me de minha família (Davi não havia nascido ainda) e caminhei na direção do ponto de ônibus, por volta de umas onze e meia da noite.

Minha esposa chorava e implorava para que eu não fizesse aquilo. No entanto, a sua choradeira foi em vão. Eu estava decidido a trazer o dinheiro suficiente para acertar as dívidas e encher a geladeira.

O suor e o nervosismo tomaram conta de mim. Dois faróis enormes surgiram no horizonte. Fiz sinal. O ônibus parou.

Subi as escadas do coletivo e olhei para a cara do cobrador. Ele estava conversando com um cara sinistro. Não tive coragem de sacar a arma. E se o camarada estivesse armado? E se eu fosse obrigado a disparar a minha arma? E se eu caísse morto? Sairia na primeira página do jornal: “Morreu o bandido que nunca roubou.“

- Posso dar um vôo, por debaixo da roleta?- O cobrador consentiu. Puxa, que momento estressante!

Desci, logo em seguida, uns oito pontos depois. Percebi que seria muito mais difícil do que havia imaginado.

Tentei o ato por três noites seguidas e nada. Entrava e saia dos raros ônibus que rodavam durante a madrugada, os chamados “serenos”, tentando criar coragem de tomar algo valioso de alguém.  

Foi aí que percebi que não havia nascido para a vida fácil. Precisava voltar a trabalhar, o mais rápido possível.

 Fiz, então, as pazes com as donas do trailer e voltei a trabalhar no turno da noite.


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