O COLETIVO ZINE É UMA AÇÃO CONJUNTA. A PROPOSTA É REUNIR DIVERSOS FANZINEIROS OU CRIADORES INDEPENDENTES E PRODUZIR UM TRABALHO COLETIVO. CADA PARTICIPANTE CONTRIBUI DA FORMA COMO PUDER, SEJA NA CRIAÇÃO, MONTAGEM, EDIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO, DIVULGAÇÃO, DISTRIBUIÇÃO. O IMPORTANTE É SOMAR ESFORÇOS. E ASSIM MULTIPLICAR A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE CADA AUTOR E DIVIDIR O TRABALHO. SE DER CERTO,CONSEGUIREMOS CHEGAR A NOVOS LEITORES QUE JAMAIS CONHECERIAM NOSSO MATERIAL SE O PROMOVÊSSEMOS ISOLADAMENTE. E NA PIOR DAS HIPÓTESES, AO MENOS TEREMOS UMA DESCULPA PARA INSANAS FESTAS DE CONFRATERNIZAÇÃO E LANÇAMENTO DE ZINES. ENTÃO, MÃOS À OBRA. MISTURE-SE.

domingo, 21 de junho de 2015

lâmina

Por Fabio da Silva Barbosa

.
seu rosto derretia
num constante agonizar
o sofrimento trancado
na caixa do seu corpo
sei bem o gosto cortante
dessas lágrimas ácidas 
caídas 
como anjos
que viraram demônios
estar completamente só
sem ninguém pra dar a mão
sem carinho ou proteção
contra esse mundo tosco
quando não há lugar
para onde ir
não há nada
para sentir
as escolhas parecem mortas
folhas secas
caindo
povoando o solo
e indo pra baixo
provavelmente você também não vai entender
não sabem o que é perder
no labirinto da dor
sentindo a lâmina cortando
só para aliviar
essa existência
essa penitência
a raiva e a mágoa
o flagelo infinito
da desumanização contínua
desses corpos e mentes que se vão

luta cotidiana

Por Fabio da Silva Barbosa

.
estão contra você
mesmo fingindo ajudar
covardes 
não assumem a posição
carrascos omissos
cercam seu frágil corpo
e sua mente já degradada
só para continuar
destruir  
não estão dispostos
não irão compreender
as partes desse todo
que se completam
as partes não estão para compor
com o dito normal
nem adianta parecer igual
seria imoral
banal

o fim chegou

Por Fabio da Silva Barbosa

 .
florestas devastadas
águas poluídas
fome declarada
população desesperada
 .
o tempo acabou
o tempo acabou
 .
cegueira coletiva
radiação destrutiva
egoísmo em massa
guerra que não passa
 .
o tempo acabou
o tempo acabou
 .
só pó e pedra
lamento e apatia
mortes maquiadas
realidades disfarçadas
.
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou
o tempo acabou

Metal

latas de alumínio 

arames pregos
parafusos
tampas de metal
no meio deste mundo 
você vê um mundo que não é real
* Estávamos no bar quando Cleber Silva meteu a mão no bolso e tirou um papel dobrado. Disse não saber o que era. Lemos: “latas de alumínio arames pregos parafusos tampas de metal”. Cleber perguntou: “Que merda é essa?” Eu disse: “Poesia”. Recitei em voz alta. Cleber então pegou o papel e completou: “no meio deste mundo você vê um mundo que não é real” (FSB)

Para quando ela partir II

Por Fabio da Silva Barbosa

Encantadora,
agora só me restam as lembranças e a saudade
seu jeito rebelde e insano
inocente amiga da vida louca
depravadamente inocente
ou inocentemente depravada
?
sempre tudo por acaso
e o acaso contribuindo
para o fluir insano dessa vida
vida ferida
vida bandida
total
marginal
forças da natureza se chocando ao acaso
tentando sobreviver
sem se curvar
é preciso liberdade
é preciso ar
fazendo o que deve ser feito
pedaços desencontrados
lançados ao azar
criatura alada
que impedem de voar
olho para os céus
tentando te encontrar
querem te abater
querem te parar
querem adestrar
as palmas não vão contentar
é preciso mais
é preciso muito mais
sempre
e o que há de mais não cabe nos bolsos
não se pode carregar
criatura sagrada
abençoa ao amaldiçoar
criatura bizarra
tenha força
tente suportar  

Para quando ela partir

Por Fabio da Silva Barbosa

era uma criançabebêidosajovem
meninamenino
negraíndiabrancaorientalcafusamamelucacaboclaocidentalemais
beleza sem igual
quando perguntavam sua raça
respondia entre o deboche e a seriedade
vira-latas
meiga como poucas e raras
mesmo quando a revolta explodia de seu peito
a raiva pela boca
ainda assim um ódio encantador
autêntico
a beleza nunca a abandonava
seu choro enchia o ambiente de tristeza
um som aterrador
seu sorriso magnífico
enchia tudo de luz
sua presença
o inferno para uns
e a alegria para outros
passou na minha vida
e sumiu no horizonte
foi rumo a incerteza
com aqueles olhos
que expressavam todos os sentimentos
que sentia no momento
com aquela face
que expelia o que sentia
espero um dia te reencontrar
nesse turbilhão louco
chamado vida

caindo

Por Fabio da Silva Barbosa

muitos anos de uso
drogas lícitas e ilícitas
o cérebro morrendo
o corpo morrendo
insiste em continuar a viver enquanto puder
mesmo querendo que tudo acabe logo
brumas tapando a visão
bombardeio químico
não consegue mais pensar
tá difícil andar
respirar
depressão profunda
dominado por angústias
desintegrando pouco a pouco
invisível
o buraco vai crescendo
a escuridão vencendo
agora já não faz mais diferença
viver ou morrer
matar ou morrer
grunhir e gemer